quarta-feira, 26 de maio de 2010

Big Bang

2H era o nome de um tasco/casa de pasto ilegal. Ficava na Rua Actriz Palmira Bastos, em Lisboa, na porta H do segundo andar de um prédio com muitos andares.

Era um tasco/casa de pasto pacato, com clientela escolhida a dedo. Para entrar era preciso tocar à campainha e os donos só abriam a porta a quem queriam, ou não fossem eles os donos. Os habitués da casa contavam-se pelos dedos de uma mão. Tinham dia fixo para lá ir e já sabiam o que iam encontrar. Isso quase nunca mudava.

Na cozinha do tasco/casa de pasto, ao fundo, estava um daqueles frigoríficos antigos, do tempo em que os frigoríficos ainda se fechavam com chave e em que a distância entre as prateleiras, lá dentro, era calculada ao centímetro para que em cada uma delas pudesse caber, de pé, um frasco de vidro de ketchup Heinz.

Lá dentro, mais pequeninas do que os frascos do ketchup, estavam as minis que os clientes bebiam. Custavam o suficiente para cobrir o preço da mini mas não cobriam o da gasolina do carro para as ir buscar ao hipermercado. O dinheiro das minis, controlado até ao último tostão, guardava-se numa velha caneca de vidro que estava em cima do frigorífico velho. As minis abriam-se com um abre-latas em forma de caneca de cerveja cheia, daqueles com íman para colar no frigorífico. De resto, o 2H era um dos poucos tascos/casa de pasto onde quase nunca se pastava e onde quase sempre só se bebia.

Na sala onde os clientes bebiam a cerveja, havia jogos. Jogos dos anos 90, como o Supaplex, e jogos de futebol projectados na parede, com cada jogador a medir 1,5m de altura. E entre um e outro, havia muita conversa. Era de valor.

E era assim o 2H.

Sem comentários: