quarta-feira, 16 de julho de 2008

Pantagruel, pág. 274: bolo burocrático

Ingredientes:

- BI e carta de condução

Modo de preparação:

Vá viver para o estrangeiro mas mantenha a sua morada legal em Portugal e leve consigo todos os seus documentos portugueses. Chegado/a lá fora, bata 2 claras de ovos, deixe-as num frigorífico – os ovos não são para aqui chamados – e vá mas é beber uma cerveja num café. Espere até que lhe roubem a carteira.

Deixe o preparado em banho-maria vários dias. Depois vá à embaixada e explique que quer fazer uma nova carta e um novo BI. O chefe depressa lhe dirá que o BI levará pelo menos um mês e que carta portuguesa é difícil de cozinhar por ali. Junte mais tempero: o BI emitido na embaixada – o tal que leva um mês – tão pouco servirá para fazer uma nova carta em Portugal. Cartas em Portugal só com BIs emitidos em território nacional.

Sete meses depois volte a casa de férias e vá à defunta DGV. Explique que está a cozinhar o bolo Simplex mas que lhe faltam ingredientes. Mostre o passaporte e peça uma segunda via da carta de condução. Fica a saber que o passaporte, ali, não serve como documento de identificação. Não perca a paciência e não argumente. Não pense sequer porque é que o passaporte lhe permite viajar para todo o mundo mas não serve o propósito de fazer uma nova carta. Use o tempo que lhe resta de forma construtiva e vá fazer um novo BI.

Chegado à Conservatória, peça o novo documento. “BIs já não existem. Só cartões do cidadão, podem demorar até dois meses e tem de vir levantá-lo pessoalmente ”, dir-lhe-ão.

Mais uma vez, não argumente contra a administração pública. Pense! Cabeça fria! Procure solução sabendo que precisa do documento e que dali a uma semana e meia vai estar bem longe da Conservatória, logo do novo cartão.

Encontre o toque final para a sua receita num jogo de cintura burocrática que lhe vai permitir sentar-se à mesa e deliciar-se com uma fatia bem suculenta do cada-vez-mais-difícil-de-fazer-bolo.

Faça o novo cartão do cidadão e explique-lhes que não o vai buscar nos próximos 12 meses. Depois, entregue-lhes uma cópia do bilhete de avião de volta a casa para justificar o próximo passo: a requisição urgente de um BI à antiga. Documento na mão, corra ao que resta da DGV antes que feche e peça a sua nova carta.

Bom apetite.

p.s.: receita indigesta, fica ainda assim nota positiva para as minis frescas que acompanham a preparação do prato.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Era uma vez um pombo...

Vi hoje enquanto vinha para o trabalho o pombo morto mais espalmado da minha vida. Tão espalmado que por momentos pensei que talvez fosse o alcatrão da estrada que tinha asas.

Pouco me importa. Também não gosto de pombos!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Correntes conceptuais para crianças

No disco da série “Os Amigos de Gaspar”, a certa altura, o Farturas
(acho eu que é o farturas porque tenho a certeza que não é o guarda serôdio nem o pires o velho marinheiro)
canta “um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar”. Esta filosofia contrasta com a filosofia pós-moderna
(todos os lugares para todas as coisas e todas as coisas em todos os lugares)
que por muito que seja obsceno dizer, embora verdadeiro, encontra o seu precursor no Renascimento.
Confesso que neste momento “Os Amigos de Gaspar” ganharam uma nova dimensão para mim, um pequeno tratado artístico
(para crianças claro)
.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Internet, onde vais tu?

A propósito desta coisa de ter os amigos “em minha casa” a escrever, pergunto-me: até que ponto deve a internet ser aquilo que as pessoas quiserem que seja, sem limites nem regras ?

Na Fantástica Gramática Automática do Vodka e Valium 10 lia no outro dia que o « pior é quando a censura vem de dentro, a auto-censura ». Já dias antes tinha lido uma notícia algures sobre a condenação do Youtube a pagar cerca de 1.300 euros de indeminização a dois jovens. Um agrediu o outro, um terceiro gravou e publicou no site. O juíz considerou que foi posta em causa a privacidade dos dois jovens e, resultado, quer agora que o Youtube pague por isso.

Casos de violência no Youtube não são novos. Está fresco na memória de muitos o video da aluna no Porto, julgo, que agride a professora. Ou das duas míudas que se brigam por causa do hi5 – este ainda por lá anda, fácil de encontrar.

Deverá o próprio site ter ou não um mecanismo de censura ou controle para evitar que videos do género sejam postos em linha ? Será sensato obrigá-lo a pagar pelos « erros » ou pela estupidez dos outros ?

Não tenho resposta mas confesso que não me agrada de todo a ideia de que possamos publicar cenas de « porrada » na net. O mesmo vale, por exemplo, para a pornografia, pedofilia…

Será impossível controlar tudo o que vem à rede, certo. Mas quer-me parecer que sites como o Youtube não devem fazer apanágio da violência.

A auto-censura é má, certo, mas esta coisa de querermos gozar dos benefícios da web sem regras e deixá-la fluir na esperança de que encontre um mecanismo auto-regulador na ponta de cada cabo de rede parece-me uma coisa falhada.

A liberdade de expressão é sagrada. Mas, deslimbrados que estamos com a possibilidade de publicar o que quer que seja para – virtualmente – milhões de pessoas, até que ponto a sabemos utilizar devidamente ?

segunda-feira, 7 de julho de 2008

À flor da pele *

Quem ainda não teve a oportunidade pode aproveitar agora e ver os The National ao vivo num documentário extraordinário de Vincent Moon (o mesmo da Blogotèque). A estrutura narrativa não é linear e, por isso, não acompanhamos o processo de criação ou os concertos por ordem cronológica. É deixado espaço ao espectador para se deixar encantar pela gravações caseiras ou pelas viagens da banda e é como se a câmara nem estivesse lá (este assunto é, aliás, discutido com o próprio realizador). Não esperem ver a realidade tal como ela é: preparem-se antes para a poesia das imagens e para a força transformadora da música. Temperem com as vossas próprias emoções.

* A Skin, a night é um documentário de Vincent Moon sobre os The National e a gravação do seu último álbum, Boxer. O trailer pode ser visto aqui e o filme pode ser comprado aqui. Outras imprecisões foram escritas ali.

Correr as capelinhas

Peca este post pelo atraso. Decidi há coisa de dias convidar alguns amigos para virem aqui escrever. Durante uma semana, a M, o Cosmonauta, a Jane Doe e o Vodka e Valium 10 vão publicar neste "canto" aquilo que bem entenderem. Sem censura, sem lápis azul. Passa a ideia por "redesenhar" esta coisa de ter um blog: se convidamos os amigos para virem a casa jantar e tomar um copo, porque não fazer o mesmo com estes espaços virtuais?

Sejam bem vindos a bordo!

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Off we go...!

É Viena no princípio do séc. XX. Durante os próximos dias vou andar pela cidade das óperas... sem sombrinha e sem vestido.